"Monteiro Lobato, sue obra é racista?!"
Por Éric Meireles de Andrade e Jeeny Azevedo.
Por
melhor que seja a intenção de Marcelo Cunha, em contrapor-se a demonização e
proibição às leituras das obras de Monteiro Lobato e, também, ao analisar o
anacronismo, pautando uma obra escrita há tempos, com olhar traduzido apenas no
presente, o jornalista incorre em dois erros: o de não suplantar o olhar
multicultural e em uma apresentação um tanto deturpada de Monteiro Lobato,
posto como um racista, vítima de seu período histórico.
As
próprias obras do “Sítio do Pica Pau Amarelo” põem em contradição essa
afirmativa, haja vista o papel protagonista de Tia Anastácia, pois de suas mãos
nascem outros grandes personagens, como Emilia e Visconde. Sem contar sua
sabedoria notável, oral e vívida dos descendentes dos escravos plantadores de
café do Vale do Paraíba, assim como Tio Barnabé, sabedoria essa que o autor faz
questão de apresentar!
Além
dessa, temos também o Saci, figura mítica secular de maior expressão nacional,
posto, hoje, nas barbas cruéis da censura politicamente correta. Afinal, é um
menino que fuma um cachimbo, fala palavrões e é travesso, né?!
A
contradição central, no texto do jornalista Marcelo Cunha, se dá ao analisar
Monteiro Lobato nos limites dos olhares ideológicos do Multiculturalismo (visão
cultural bipolar, importante para os países anglo-saxões, mas de pouca eficácia
analítica e referencial de nosso país, notavelmente mestiço e multifacetado).
Aqui,
antes de afirmar se é ou não racista, precisamos entender a mistura de brancos,
índios e negros, de seus papéis de sujeitos e coparticipantes na construção de
nossa identidade e história nacional. Não devemos segmentá-los! Separar Tia
Anastácia, Tio Barnabé e Saci de forma estanque, além de autonomizá-los e
isolá-los, dos outros personagens do livro, por serem negros, é constituir um
assassinato literário à obra e ao seu autor.
Por fim, vale
destacar que é preciso, ao analisar um texto literário, separar a obra de seu
autor. O homem Monteiro Lobato, para nossa história, está acima de uma
discussão ainda superficial sobre ser ou não racista. Indubitavelmente, ele foi
um grande brasileiro, pacifista e visionário das potencialidades nacionais,
vide seu olhar sobre nosso petróleo e defesa do desenvolvimento do Brasil.
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"Emília e o racismo em Lobato" foi publicado no Terra Magazine e divulgado no Portal Vermelho. Leia na íntegra: “Marcelo Carneiro da Cunha: Emília e o racismo em Lobato”: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=159441&id_secao=11